Uma prata pedagógica

INTERNACIONAL | Grand Slam Mongólia

A prova do Grand Tour IJF realizada na Mongólia, em Ulaanbaatar, de 24 a 26 de junho deu início ao percurso que judocas do mundo inteiro irão realizar para conquistar um lugar na comitiva olímpica do seu país em 2024. Paris é a meta a partir de agora. A corrida, em ritmo de maratona, já começou.

Nesta caminhada Jorge Fonseca, o bicampeão mundial de -100kg, tem que perder para ganhar. Não será razoável, nem sequer pedagogicamente interessante, que se exija que o atleta mais explosivo e mais eficaz nos seus ataques diversificados, vença sistematicamente os seus opositores. Se a curva de experiência não se apresentar com altos e baixos, na linha do tempo, o risco será o da imprevisibilidade na fase decisiva e eventualmente um excesso de confiança necessariamente nocivo.

O que se aprende com as derrotas, como foi o caso na final da Mongólia com o jovem russo Matvey Kanikovskiy, é determinante para estruturar linhas de aprofundamento e de melhoria. O atual Campeão da Europa de Juniores soube resistir aos ataques fulminantes de Fonseca e ao inverso do que é habitual, foi o judoca português que se colocou em risco sempre que atacou. A combinação morote-o-soto-otoshi deu quase sempre abertura ao uchi-mata do russo que só não o aplicou com eficácia devido ao poder de embate de Jorge Fonseca.

Não é por se estudar muito Fonseca que se acaba por ganhar. Jorge Fonseca é totalmente imprevisível nas suas combinações e explosões. Mas é natural que uma espécie de antídoto vá sendo informalmente coconstruído pelos seus adversários e que todos os pontos críticos venham a ser progressivamente superados. É por isso tão importante que as vitórias e as derrotas se inscrevam numa progressão não-linear que facilite o reforço dos recursos para que nos momentos cruciais funcione a explosão em detrimento da antecipação.