Não há gestão desportiva, tudo é tratado em cima do joelho na FPJ

Joana Crisóstomo lamenta a incerteza na qual vivem atletas com elevado potencial internacional

Pedro Pratas, treinador do Clube de Judo Lusófona

A gestão desportiva, no judo, anda pelas ruas da amargura. Está é a opinião de Pedro Pratas que, conjuntamente com Rui Rosa, orienta o projeto de desenvolvimento da modalidade na Universidade Lusófona. A frustração é muito grande, sobretudo para os atletas que não integram o lote de selecionados da elite e do projeto olímpico.

“Há uma segunda linha de atletas que já deram provas em vários palcos internacionais e que não estão a merecer o enquadramento e apoio que se justificaria. Há nitidamente uma falta de visão sobre a estratégia a adoptar para assegurar uma continuidade daqueles que hoje estão no topo da carreira desportiva. A isto chama-se ausência de política de desenvolvimento e de gestão desportiva dos valores e dos recursos disponíveis” adiantou-nos Pedro Pratas que reclama de aspetos estruturais mas também de outros que são meramente pontuais como é caso do respeito pelos clubes e pelos treinadores.

“Solicitámos à Federação Portuguesa de Judo que autorizasse a participação, agora em inícios de fevereiro, de atletas nossos no Grand Slam de Paris. Claro, a expensas do clube e com investimento total do nosso lado. Queremos proporcionar oportunidades a atletas que precisam de viver situações muito exigentes e Paris é um caso bem característico desse tipo de desafios. Temos ideia que os Grand Slams são mais densos mas mais abertos para participações como aquelas que queremos incentivar. Por vezes provas internacionais de nível inferior são mais fechadas e mais complicadas para testar aspetos determinantes da progressão dos atletas. Mas, tendo a questão sido colocada à atual direção da FPJ, nem nos responderam. Certamente que a relação com os clubes que apostam em determinadas lógicas de gestão desportiva não é prioritária. É de facto uma grande frustração.” clarificou o treinador da Lusófona que aproveitou para esclarecer que não é hábito do clube vir para a praça pública com assuntos desportivos, aliás de uma forma geral a postura é de reserva e muito virada para dentro, mas o tema está a assumir uma gravidade quase dramática para vários atletas de diversos clubes e não apenas para aqueles que são da Lusófona.

Necessariamente esta matéria dos apoios está relacionada com as condições de financiamento de todos aqueles que precisam. A Federação certamente adiantaria, como o fez há uns meses para responder às solicitações de Telma Monteiro no sentido da existência de mais estágios e mais provas no percurso olímpico, que não haverá dinheiro para tudo.

Pedro Pratas é categórico a refutar este tipo de argumento “vindo de quem vem essa justificação é absurda. Todos sabem que a Federação trata tudo à última da hora, compra bilhetes de avião caros e na prática esbanja o dinheiro disponível por falta de gestão desportiva e até financeira. Tudo é tratado em cima do joelho e isso é que é o problema”

Joana Crisóstomo, na expectativa

“Não sei o que vem a seguir. Não há agenda nem plano para as etapas seguintes. E é esta incerteza e esta falta de planeamento que impede uma verdadeira auto-organização e uma preparação adequada para os desafios que se colocam. Para mim seria muito útil, por exemplo, participar no estágio de Paris. Como é óbvio tinha que participar no Grand Prix de Almada, é uma competição muito importante para todos nós e programei o meu pico de forma para esta ocasião. Dar continuidade a este élan, indo ao estágio a Paris, seria excelente, Importa que trabalhemos na continuidade e não aos solavancos” adiantou-nos Joana Crisóstomo que não encontra explicação para a falta de sensibilidade para com atletas que como ela já conquistaram medalhas em Europeus e até em Grand Slams.

Joana estava com um judogi cujo dossart indicava um nome bem conhecido de todos os judocas, “Raquel Brito”. “Sinto-me bem com ele e até me faz mais elegante” adiantou com um sorriso. A justificação para esta situação veio a seguir “antes, estive a treinar e não tinha o meu disponível. Como era um treino com os japoneses disseram-me que o judogi tinha que ser branco. Assim fiz, mas com um emprestado!”

Gestão desportiva, planos de desenvolvimento desenhados com a colaboração dos atletas e dos treinadores, apostas nos diversos níveis competitivos e escalões, muito há a fazer no entendimento dos nossos interlocutores. Uma coisa é certa, esta matéria não surge agora de forma isolada. Ela já esteve no centro das críticas e até do conflito com os atletas do projeto olímpico que colocaram estas questões no plano público através da famosa Carta Aberta que obrigou a uma intervenção do Comité Olímpico de Portugal e da própria Secretaria de Estado do Desporto e da Juventude.

Joana Crisóstomo no treino com a seleção japonesa no Clube Judo Lusófona

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