Uma aula aberta, como funciona?

JudoMagazine | 26 de abril de 2020

O judo surge, no espectro das modalidades desportivas, como um dos contextos mais extremados no binómio flexibilidade/rigidez para a dinamização de uma prática participada. Por um lado admite lógicas de forte convivialidade entre atletas e outros protagonistas tais como amigos e familiares e, simultaneamente, assenta num código rigoroso de disciplina e de exigência que marca os percursos e os diversos processos de treino.

É nessa amplitude e margem de manobra que podem ser desenvolvidas iniciativas, principalmente dirigidas aos mais jovens, com um triplo sentido: o convívio, o envolvimento dos próximos e a promoção do judo na comunidade.

O convívio reforça as relações de afecto e uma socialização de espectro alargado; o envolvimento dos próximos facilita as estratégias de acompanhamento visando a persistência e a auto-motivação face aos desafios do percurso de progressão e a promoção da modalidade a nível local, quando realizada com a participação dos próprios membros da comunidade adquire uma eficácia bem superior ao habitual.

É neste contexto que podemos introduzir a organização de aulas abertas cuja experiência já é recorrente em diversos pontos do país mas que vale a pena sinalizar como uma boa iniciativa promocional da modalidade. A recente realização de uma aula aberta dinamizada pelo Clube de Judo Hajime no Pavilhão Multiusos de Odivelas, por ocasião da prova europeia European Open Open Women, numa escala pouco habitual (ou seja com dezenas de participantes) leva-nos a recapitular os passos a seguir neste tipo de acção desportiva e pedagógica:

1º Preparar os futuros participantes – pais e filhos – indicando as vantagens da utilização de uma indumentária desportiva na sessão e tranquilizando os mais renitentes através de uma informação clara sobre a simplicidade e espontaneidade da iniciativa;

2º Organizar a entrada no tapete na base da dupla pais e filhos e utilizar o formato habitual da saudação inicial (de joelhos à volta do tapete) para acolher todos os participantes;

3º Antes da saudação agradecer a presença de todos e desdramatizar a iniciativa, introduzindo um sentido de convívio, jogo e boa disposição: o judo é uma coisa séria que se faz com boa disposição;

4º Realizar a saudação, informar o tempo que irá durar a aula e apresentar os assistentes que estarão disponíveis para apoiar no que for necessário;

5º Pedir para todos ocuparem o espaço disponível e iniciar uma sessão de aquecimento, em pé e no chão, com exercícios simples que façam o percurso da cabeça aos pés;

6º Introduzir duas ou 3 quedas e executar à esquerda e à direita;

7º Não deixar de acompanhar os exercícios com um sentido de jogo recorrendo ao humor (falsas partidas, inversão de sentidos de circulação de forma repentina);

8º Introduzir o judo no chão com uma imobilização simples e introduzir o conceito de randori;

9º Apresentação das pegas em pé e as referências centrais dos papéis que desempenham Tori e Uke, recorrendo a pequenos jogos em posição estática e depois em movimento;

10º Introduzir uma técnica simples e com elevada facilidade de controle (ex: O-goshi) por parte de Tori e introduzir as projecções e as quedas na acção;

11º Finalmente o randori em pé associado a objectivos de jogo e de boa disposição.

12º Concluir com um tempo de “recuperação e regresso à calma” e terminar com a saudação final;

13ª Antes de abandonar a posição de saudação, caso o ambiente o proporcione, pedir que alguns participantes verbalizem a avaliação que fazem da experiência vivida e claro terminar com a pergunta fundamental: se estarão dispostos a renovar a experiência noutros contexto, para motivar e incentivar a futuras participações.

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